Comportamento

TENDÊNCIAS OU PENDÊNCIAS? (parte 1)

A consultoria de marketing exige que eu me mantenha sempre atualizada sobre o que acontece no mundo. Horas de leitura são investidas todos os dias em meios digitais, eletrônicos e impressos. Como não tenho intenção em desenvolver FOMO (fear of missing out), tão em moda hoje em dia, entendo e respeito as minhas limitações. Também considero improdutivo saber tudo… gosto da surpresa, gosto de descobrir que existem pessoas com conhecimentos diferentes que podem agregar aos meus.

Uma das minhas formações é em Cool Hunter ,- caçador de tendências –, então, estudar e procurar comportamentos que gerem tendências é um dos meus hobbies. Nesse artigo e no artigo da próxima segunda-feira, escreverei sobre algumas tendências de comportamento que podem gerar novas oportunidades e modelos de negócios. No workshop de Modelagem de Novos Negócios sempre levo materiais sobre tendências para que as empresas/pessoas desenvolvam seus empreendimentos a partir delas.

É importante salientar que algumas tendências estão acontecendo, estão em processo. Mas, ainda em baixa velocidade, em função de “n” fatores. Há quem as considere pendências, pois a sociedade está passando por elas e ainda não as entendeu ou absorveu em sua rotina. Como o mundo vive em transformação, é impossível que as tendências sejam absorvidas em sua totalidade, até mesmo porque a todo momento, surgem novos hábitos de consumo, novas pautas, novas percepções.

  1. Mobilidade humana: resumindo, é muita gente para pouco espaço. Há projeções de que até 2030, a Terra será habitada por mais de 8,5 bilhões de pessoas, sendo que 1 bilhão terá mais de 65 anos. Metrópoles e cidades grandes ainda terão muitos problemas e as soluções para amenizá-los poderão vir de ideias simples e inovadoras. No Brasil, até mesmo cidades de pequeno e médio porte têm sofrido com a questão da mobilidade, principalmente, nos conhecidos “horários de pico”. Planos diretores dos munícipios já estão sendo desenvolvidos dentro dos conceitos de smart cities, que pensa e planeja as cidades como um sistema, promovendo assim, maior qualidade de vida para seus habitantes.
  2. Educação básica e profissional: em países como o Brasil, a pauta educacional vai além de decidir se o novo modelo será híbrido ou não. O grande desafio ainda será, por muitos e muitos anos, a qualidade da educação básica pública na formação de jovens e adultos. Sem uma boa formação na infância, como essas pessoas poderão ter as mesmas oportunidades? Por outro lado, a questão da mobilidade também interfere na necessidade de uma solução conecte o presencial e o online. Há instituições que já estão trabalhando no modelo híbrido, o que será uma realidade em pouco tempo.
  3. Novas modalidades de trabalho: a nova economia exige um novo perfil de profissional. O desenvolvimento de competências (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) supera o movimento tecnicista, pois entende o profissional como agente de sua própria história. No decorrer de sua trajetória, esse profissional precisará se reinventar e recalcular suas rota continuamente. Termos como Reskilling (requalificação ou reciclagem)  e Upskilling (especialização ou um aprofundamento do domínio), serão constantes em nosso desenvolvimento pessoal. Novas formas de contratação também deverão ser pauta de discussão em poucos anos, em função da demanda por novas relações de trabalho, tanto por parte dos trabalhadores quanto das empresas/organizações.
  4. Saúde mental: a pandemia de Covid potencializou os problemas com saúde mental, o que poderá resultar na próxima pandemia.  Ansiedade e depressão são algumas das doenças que exigirão maior cuidado e atenção nos próximos anos. Nesse contexto, as mulheres e os millenials serão os mais afetados, segundo estudos sobre o tema. Forte cobrança por resultados nas empresas, insegurança quanto as metas e objetivos a serem conquistados, em alguns casos, duplas jornadas de trabalho, são alguns dos fatores que afetaram diretamente a saúde mental das pessoas nos últimos anos. Esses fatores já existiam, isso é fato, mas a instabilidade econômica e financeira geradas pela pandemia, enfatizaram esses problemas.
  5. Saúde: os avanços tecnológicos nessa área são incríveis e vão desde a robotização de algumas atividades até a produção de novos medicamentos, com o avanço da biotecnologia. A própria pandemia de saúde mental exigirá novos tipos de medicamentos para tratamento e cura. A autorização do uso de cannabis na indústria farmacêutica em alguns países, é uma vitória em tratamentos de doenças neurológicas e um grande avanço tecnológico e social. Além disso, a busca pela “vida eterna” ou prolongamento da vida com o uso de biohacking, demandam grandes investimentos no segmento,
  6. Alimentação: o aumento da fome no mundo também é uma das “sequelas” da Covid. Não é preciso explicar aqui o porquê, basta olhar ao nosso redor e perceber o preço dos alimentos. Comer está se tornando, com ainda mais intensidade, um ato político. Nesse momento, não são todos os seres humanos que têm tido acesso a alimentação e isso é mais um indício de que a humanidade precisa rever a sua “sociedade”. Outra vertente dessa tendência é o flexitarianismo, que tem como foco uma dieta baseada em alimentos saudáveis, sejam eles de origem animal ou vegetal. Ele também pode ser entendido como quase uma forma de ativismo pela melhoria do meio ambiente.

Acredito que essas primeiras tendências deixarão aquela “pulguinha” atrás da orelha por alguns dias, o que é completamente entendível e saudável. E para quem ainda não se atentou que tudo sempre muda e muda cada vez mais rápido, fecho o artigo com uma frase do economista britânico, John Maynard Keynes:

O inevitável nunca acontece. O inesperado sempre ocorre. 

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