Comportamento

SAPATOS E MUDANÇAS

Em uma das minhas viagens a Nova Iorque comprei um par de sapatos lindíssimos. Quando os vi na vitrine pensei “lá vai um dos meus rins”… Ainda bem que estavam em promoção, então, a euforia da compra foi maior do que o choque da autorização do cartão de crédito. Isso aconteceu há uns sete anos.

Na última semana, ao abrir o armário, o saudosismo chegou com tudo. Lembrei de cada evento, de cada festa, de cada reunião social em que participamos (os sapatos e eu <3). A última lembrança foi sentada num dogão perto da minha casa, depois de um evento chiquérrimo onde faltou comida – sim, já participei de alguns destes -, desgustando um prensado na chapa caprichado.

Tempos bons e sou feliz porque os aproveitei de forma intensa. Não tinha convite negado, afinal, convite de “amigo” não se nega. Batia palmas para pessoas que nem conhecia, mas, valia tudo para estar no trade. Conheci pessoas interessantes e pessoas não tão interessantes assim. Esse é o jogo! Networking é importante e você nunca vai saber o resultado de uma noite de “oi, tudo bem?”.

Mas, ao retirar os sapatos do saquinho e colocá-los nos pés, percebi que já não eram tão confortáveis como eu lembrava. Provando-os eu percebi que os meus pés não tinham crescido ou o couro do sapato encolhido. Eu simplesmente não os acho mais maravilhosos como outrora. Hoje, são sapatos. Assim como os demais, protegerão meus pés e os adornarão.

Assim como os sapatos, várias coisas na minha vida já não valem tanto quanto antes. As prioridades mudaram. Eu mudei. E a mudança é real, não é da boca para fora. Revi conceitos, produzi releituras de situações passadas e me conectei com novos sentimentos e paixões. Deixei para trás coisas e relações que não me satisfazem mais. Dessa forma, me abri para novas oportunidades e para um novo mundo.

Mudar é preciso, e desistir de algumas coisas é saudável. Uma coisa é ser persistente, outra é ser teimosa. Nós persistimos no que nos enche a alma e nos dá brilho nos olhos, e teimamos quando deixamos o orgulho dominar. Em quantos projetos gastamos energia e recursos pelo medo de sermos taxados de fracassados? Quantas empresas são abertas no maior auê e meses depois fechadas no silêncio?

Estar pronta para enfrentar as mudanças que a vida nos traz é estratégico. Não se atentar aos sinais ou ficar persistindo em coisas que já não fazem mais sentido é retrocesso. E isso serve para pessoas e negócios. Nem tudo na vida acontece do jeitinho que a gente sonha, às vezes, é bem melhor do que o sonhado, em outras, não. Abrace a mudança. Acolha o novo momento.

Há duas semanas, li uma frase atribuída a Rachel de Queiroz que levarei para a minha vida, “cada coisa tem sua hora e cada hora o seu cuidado”. A vida é assim mesmo. O nosso tempo é diferente do tempo das outras pessoas. O que é importante para mim, pode não ser para o outro. E está tudo bem. Posso até emprestar os meus sapatos, mas cada um faz o seu caminho.

 

 

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