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INOVAR NO BRASIL: DESAFIOS E FERRAMENTAS

“A água do rio que tocamos é a última da que vai passando e a primeira que está a chegar. O mesmo sucede com o tempo presente”, frase atribuída ao principal ícone da inovação, ciência, arte, Leonardo Da Vinci. Assim como ele, vários empreendedores nos mais variados segmentos, colocaram e colocam suas ideias em prática a serviço da humanidade. Conhecer a história de Leonardo Da Vinci é conhecer a história do empreendedorismo e da inovação numa época sem internet, sem smartphone, sem redes sociais on line, onde a curiosidade e a criatividade eram os propulsores do conhecimento.

Ler e aprender sobre o Renascimento e seus ícones como William Shakespeare, Da Vinci, Maquiavel, Pedro e Lourenço de Médici, nos faz viajar no tempo e perceber nesses nomes características presentes hoje em Bill Gates, Steve Jobs, Elon Musk, Jake Ma, entre tantos outros empreendedores pelo mundo afora. O Brasil também possui uma alma inovadora e empreendedora. Abílio Diniz, Jorge Paulo Lemann, Luiza Helena Trajano, Sonia Hess de Souza, fazem parte do rol de brasileiros que de alguma forma conduziram e conduzem projetos inovadores no país.

O mundo que usufruímos hoje é o resultado de milhares de anos de inovação, empreendedorismo, conhecimento, a serviço do suprimento das necessidades humanas. Em um contexto simplista, a inovação vem para suprir uma falta que se sente. E quem “sente”? O homem. Ele sente frio, fome, sede, raiva, orgulho, inveja, amor… e cada falta gerada por um sentimento desses, gera uma demanda a ser suprida. Em plena 3ª. onda, onde o conhecimento é o principal elemento, as ideias são a moeda mais valiosa.

Mesmo assim, em um país onde não faltam ideias, de acordo com o IBGE, em sua pesquisa Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo, divulgada em 22/10/2020 pelo site do Jornal Valor, https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/10/22/maioria-das-empresas-no-pais-nao-dura-10-anos-e-1-de-5-fecha-apos-1-ano.ghtml , das empresas nascidas em 2008, apenas 25,3% continuavam de pé dez anos depois. Ainda de acordo com o levantamento, das empresas fundadas em 2008, após o primeiro ano de atividade 81,5% permaneciam abertas.

Alguns motivos podem ser elencados por levarem uma ideia empreendedora ao fracasso:

  • Cegueira seletiva: para Tallis Gomes, no portal Administradores.com, https://administradores.com.br/noticias/como-sua-empresa-vai-morrer-em-10-anos , a incapacidade de detectar até mesmo as mais básicas mudanças que acontecem diante dos nossos olhos pode provocar grandes abalos nas estruturas de negócios. Não perceber a mudança do mundo no qual se está inserido pode trazer riscos fatais à sua empresa.
  • Medo da mudança: ainda para Tallis Gomes, a percepção da mudança e o medo dela são responsáveis por uma grande parte da mortalidade das empresas. Muitos líderes não conseguem unir esforços e alavancar um enfrentamento desse medo, ficando inertes na tomada de decisão.
  • Resistências culturais: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, “você não é pago para pensar, é pago para fazer”, são frases que limitam a prática colaborativa e de co-criação dentro das empresas nesse novo mundo organizacional. Processos inovativos pressupõe práticas novas, pensamentos novos, e isso só é possível em um espaço de colaboração e interação onde todas as ideias são bem-vindas e passíveis de serem ouvidas.
  • Comando da empresa sem perfil de liderança: nem todo empreendedor é líder. Porém, toda organização precisa de um líder. Tudo o que envolve pessoas e processos, por mais simples que seja, precisa de uma liderança conectada com o interno e o externo.
  • Falta de engajamento e comprometimento dos colaboradores: uma empresa é feita de pessoas para atender pessoas. Se os colaboradores (funcionários) não estiverem a par do negócio, das metas e do porquê a empresa existe, não haverá espaço e clima para a inovação e o desenvolvimento do negócio.

Além desses motivos, o Blog Egestor, https://blog.egestor.com.br/8-principais-causas-da-mortalidade-de-empresas/, pontua mais alguns fatores de mortalidade das empresas no Brasil, como falta de planejamento, elaboração de um plano de negócios incompatível com a realidade, inexperiência e falta de capacitação de empresários, falta de fiscalização e acompanhamento, mistura das contas pessoais com as contas das empresas, falta de divulgação e desequilíbrio do flixo de caixa.

Para que as empresas e organizações tornem seus negócios rentáveis, dentro de uma prática inovadora, tanto na gestão quanto nos produtos e serviços comercializados, alguns conceitos e ferramentas podem ser incorporados no seu dia a dia:

  • Foco no cliente: produtos e serviços devem ser criados a partir das necessidades dos seus clientes. O desafio é muito grande, pois há um ponto importante a se olhar, segundo LINDKVIST, “as pessoas não querem escolher, as pessoas querem exatamente o que desejam”.
  • Foco no negócio com visão sistêmica: a partir do foco no cliente, o negócio deve ser projetado e gerenciado de forma estratégica e com visão sistêmica, de forma a conhecer, entender e utilizar as variáveis mais interessantes para a tomada de decisão.
  • Planejamento estratégico flexível e aderente ao negócio: criar ou tornar uma estrutura aderente à inovação, requer um planejamento estratégico aderente ao negócio. Inovar não é um processo tão simples e barato a ponto de não necessitar de uma boa base para sua expansão.
  • Estímulo contínuo a cultura de inovação: as empresas precisam criar condições para que as ideias inovadoras cheguem aos seus espaços, incluenciem seus colabodores e impactem positivamente seus clientes.
  • Inovar não é um processo simples, mas é um processo vital para a saúde das empresas e organizações, independentemente do seu porte ou ramo de atuação. Com o objetivo de mudar a realidade da mortalidade das empresas, algumas ferramentas podem ser usadas:
  • Canvas: é uma ferramenta de gerenciamento estratégico, que permite desenvolver e esboçar modelos de negócios.
  • Jobs to be done: numa tradução simples, é uma metodologia que propõe o que precisa ser feito para a criação de produtos e serviços que entreguem o que os clientes desejam.
  • Curva S: é utilizada para descobrir oportunidades e representa a evolução de um sistema, da sua concepção até sua morte.
  • Design thinking: é a ferramenta mais conhecida e utilizada. Consiste em um conjunto de ideias e dicas de abordagem para solução de problemas.

Empreender no Brasil é para os fortes. Os empreendedores e a sociedade em geral pagam por uma carga tributária que não é condizente com o seu consumo em função do Governo ter uma máquina pesada e de complexo gerenciamento. Em função disso, cabe a iniciativa privada tornar seus negócios rentáveis para movimentar a economia e gerar emprego e renda. Dessa forma, inovar e empreender se tornam ao mesmo tempo, desafiador e complexo.

Há um mercado muito promissor de inovações nos mais diversos segmentos, que promovem a geração de riquezas, mas que precisam de suporte em gestão e estratégia para continuar operando. Capacitação das pessoas, mudança cultural na liderança, foco na cultura de inovação, ampliação das oportunidades de financiamentos compatíveis com o momento econômico, além da comunicação e do fortalecimento do trabalho em equipe, são elementos que contribuirão e muito para o fortalecimento do sistema inovador brasileiro.

 

 

Artigo adaptado do original desenvolvido como atividade final do curso de Inovação Estratégica da Fundação Getúlio Vargas, pela autora do blog.

Photo by Ryo Tanaka on Unsplash

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