A humanidade já passou por grandes depressões, catástrofes e pandemias, e mesmo que cada geração popularize a noção de que a época em que vive é única e que o cenário seja diferente, vários comportamentos se repetem. O que vivemos hoje, como a polarização política, a luta entre o “bem e o mal”, o negacionismo da pandemia, a influência da mídia e assim por diante, sempre aconteceram, cada qual em seu momento, com os seus próprios atores e fatos.
Esses fenômenos acontecem sem que percebamos, pois estamos dominados pela cegueira da mudança, que é a incapacidade de detectar até mesmo as mais básicas mudanças que acontecem bem diante dos nossos olhos. Então, enquanto estamos preocupados em nos proteger do vírus ou em quando tomaremos a vacina, as coisas vão acontecendo ao nosso redor sem nos darmos conta. A vida segue e absorvemos hábitos e comportamentos a partir das nossas experiências com essa nova vida.
Nicholas Christakis, Sociológo e Médico americano, autor do livro Apollo´s Arrow: the Profound and Enduring Impact of Coronavirus on the Way We Live, escreve sobre os impactos pós pandemia no comportamento da sociedade, caracterizando cada fase e como a humanidade geralmente enfrenta cada uma delas. Esse artigo é escrito com base numa entrevista dele para a BBC, então, quem quiser ler a entrevista na íntegra é só acessar o link https://www.bbc.com/portuguese/geral-55670066.
Segundo Nicholas, estamos vivendo em um momento que ocorre a cada cem anos (a Gripe Espanhola aconteceu entre 1918 e 1920), impactados por um fenômeno que não é só biológico, é também social. Durante esses fenômenos, culpar os outros é algo típico. Sempre procuramos um culpado, pois é mais fácil jogar a culpa nos outros do que assumir a própria responsabilidade. Isso aconteceu com o judeus que eram condenados pelas pestes medievais e com os homossexuais durante a epidemia do HIV.
As pandemias são explicadas por períodos, que nesse caso são assim divididos:
- Desde março do ano passado, sofremos os impactos do primeiro período, onde percebemos um aumento da religiosidade, corte de gastos e despesas, aversão ao risco e menor interação social.
- Nesse momento, estamos no período da imunização, que deve durar até o final de 2021, onde pretende-se atingir a imunidade do grupo.
- O período intermediário, que contempla a recuperação dos impactos sociais, psiológicos e econômicos, deve ir até o final de 2023. Desemprego, interrupção dos estudos e o luto dos atingidos pelas mortes do COVID são os fatores principais desse período.
- A partir de 2024 iniciaremos o período pós-pandemia, que é o período em que teremos a sensação de termos nos livrado do problema e onde a economia deve voltar a estabilizar. O aumento da interação social, a diminuição da religiosidade, maior tolerância aos riscos e aumento dos gastos, nos darão a sensação de ter voltado à vida normal.
Temos um longo caminho pela frente, e alguns problemas para resolver antes desse retorno. Vou me ater a dois deles: aumento da fome no mundo e aumento dos casos de saúde mental a nível global. Esse dois problemas só poderão ser resolvidos com política pública adequada e com projeto de nação forte, pois sendo formada em ciências econômicas, que é uma ciência social, posso afirmar que não existe economia saudável sem gente saudável.
Além disso, são dois problemas que afetarão diretamente as empresas, pois a imaginação (própria dos seres humanos) é vital em um mundo VUCA – ou agora, BANI. As ideias são a moeda mais valiosa do mundo de hoje, e antes que a inteligência artificial domine essa habilidade, ela é específica do ser humano.
A pergunta que fica é: como estamos nos preparando para esse retorno?